Ao sair do Atacama, fugindo desesperadamente  de Chico Chato  e Chiquita Chatita, cruzamos um enorme deserto até o Oceano Pacífico.

Subidas, descidas e retas sem fim. Quase nenhuma curva.

O engraçado é que no deserto as dimensões são diferentes. Você consegue enxergar mais longe, provavelmente por causa da umidade zero do ar.

Aquela montanha que está logo ali, na verdade está a 300km de distância. É tudo tão amplo que muitas vezes uma subida pode ser facilmente confundida com uma descida. Nenhuma referência próxima ao carro dá essa impressão esquisita.

Miragens nos acompanharam pela estrada com freqüência.  Aquela poça de água ali na frente nunca chegava.  As montanhas mudavam sua forma também. Às vezes, pareciam que estavam de cabeça para baixo.

Cruzamos por um caça da aeronáutica chilena dando manobras espetaculares pelo deserto. Rasantes,  loopings e curvas radicais mais rápidas que a velocidade do som. Bonito de se ver.

Passamos por Chuquimata, a maior mina de cobre do planeta. Ali uma montanha se transformou em um enorme buraco.

Durante a Guerra do Pacifico o Chile tomou da Bolívia esta região. A Ana, com fome, conseguiu ler churrasco na placa escrita Chuquimata, e cheia de desejos por uma suculenta picanha... coitada... comeu salsicha mais tarde.

Íamos para Tocopila, mas lembro de ter lido no jornal, a cerca de um ano atrás, que a cidade foi epicentro de um terremoto e foi destruída, por isso seguimos para o norte. Iquique era o nosso destino. Uma cidade erguida sobre as dunas. Impressionante!

Fiquei horrorizado em ver como a cidade cresceu nos últimos 3 anos. Os arranha céus se multiplicaram por  10. Milagre de uma economia impulsionada pela ausência de impostos, já que é uma zona franca.

Iquique é uma mistura de Barra da Tijuca, no Rio, com Fortaleza.

Um calçadão na praia bem projetado e moderno, tem cassino, zoo com lhamas, quiosques, skate park, lagos artificiais...

Quanta audácia dos chilenos ... construírem enormes edifícios, no meio das dunas em uma área de constantes terremotos!  Mais maluco que o cara que constrói o prédio é o cara que compra um apartamento!!!. Esporte radical  em Iquique é morar no ultimo andar...hehehe...

A cidade tem boas ondas para o surf. Ali um clube de body boarders defende com unhas e dentes a sua onda para direita chamada La Punta.

Um surfista chileno me alertou para não cair ali, pois teria problemas e avisou que na quarta chegariam grandes ondas.

As ondas são idênticas à Praia da Ondina em Salvador. Ondinha maneira, mas nada que justifique atravessar um deserto para surfar.

Há 3 anos passei batido pelo sul de Iquique e vi uma onda perfeita e solitária para a esquerda. Aquela onda nunca saiu da minha cabeça.  Dessa vez eu fui catá-la e tentar surfá-la.

Pelos meus cálculos e minha deficiente memória ela estava a exatos 80 km ao sul de Iquique. E lá fomos nós, em direção àquela onda que eu desenhava no caderno do colégio quando tinha 15 anos.

Passamos por aquele litoral belo, seco e triste. A estrada cortava dunas com mais de 1000 metros de altura. A Ana leu que em Iquique a taxa de suicídios é altíssima. Vai ver que é por isso que existem compradores pros apartamentos nos arranha céus.

Rodamos mais de 150 km pro sul e a onda da minha imaginação nunca aparecia. A Ana pediu para acordá-la quando chegássemos ao Cabo Horn. Desisti ...  A onda mora naquela região, mas naquele dia ela não estava quebrando.  O litoral é todo parecido, difícil saber o lugar exato.

-Vamos parar para acampar por aqui?

-Beleza!

E escolhemos uma mini baia linda. Uma duna enorme, que ia até as nuvens, espremia a faixa de areia e pedras com o Oceano Pacifico.

-Aqui está maneiro!

O Tapa pulou do carro e liberou um cagalhão de cerca de 6 kg. Nada anormal pro fedorento.

-Pô, o Tapa fez coco do lado da minha porta, vou chegar o carro mais pra frente.

A Ana saiu andando e assim que encontrei um lugar bem longe da mega-bosta ela logo avisou:

-Não quero ficar aqui não.

-Por quê?

-Acabei de ver um osso humano.

-Tá de saca? Quero ver.

-Tá ali.

-Ah Ana, isso deve ser de um pelicano, cachorro ... sei lá...-

-Eu já dissequei cadáver na faculdade, eu conheço.

-Sinistro! Vamos nessa!

E encontramos outro lugar. Não tão bonito, mas tão aprazível quanto.

Ali fizemos nossa farofa com louvor. Coca gelada, comidinha no microondas, fogão elétrico, fogão a álcool... era o momento do Farofamóvel “demonstrar o  talento”.

Cadeirinha e mesinha espalhadas naquela estreita praia desértica no pé da super duna. Apenas os pássaros testemunharam a farofada brasileira.

Maravilha!!!!

Na hora de lavar os pratos apareceu o Tapa com um osso enorme na boca. Aquele sim era um osso humano, e bem humano!!! Até eu reconheci aquele ante-braço!!!

Sem emitir nenhum som, nos olhamos, entramos no carro e ralamos fora. Costa dos Esqueletos... never more!!!!

-Vamos para Arica.

-Demorou.

Passamos no trajeto, por geoglífos desenhados nas dunas. Tem gente que diz que foram feitos pelos ETs.

Depois de cruzarmos belos vales entre dunas enormes e chegamos a Arica. A última cidade ao norte do Chile e fronteira com o Peru. Ali a pesca move a economia da região.

Um lugar onde os carros param para os pelicanos atravessarem a rua.

Nos dias que passamos por ali, estava acontecendo o campeonato mundial de bodyboard na onda de El Gringo.

Uma onda para direita, “buraco”, em cima das pedras.

Um Farofamóvel alemão que estava dando a volta ao mundo era o gerador de energia do palanque do campeonato.

El Gringo quebra em uma ponta de pedras que tem um farol.

Do outro lado desta ponta, tem uma onda para a esquerda chamada El Braço.

Passamos nossos dias de Arica no Camping Colliguay .

Uma cadela e um micro-cão foram nossos visinhos nestes dias. 

O Tapa desapareceu na segunda noite e ficamos um longo tempo procurando nosso “neguinho peçonhento” no breu do deserto. Lembrando dos diversos cartazes de cachorros que já vi espalhados na cidade, me vi fazendo o mesmo com um nó na garganta. Ele é sacana, mas é nosso!!!! Cadê o fedorento!!

Do nada, ele aparece nadando na piscina do camping. Agora ele anda com a gente amarrado, como um bode, na árvore.

Fomos a um veterinário que nos deu um Atestado Sanitário do Tapa. Ele me mostrou um jornal em que o brasileiro Guilherme Tamega aparecia ferido na boca pelas ondas de El Gringo.

E ele disse sobre o Tapa:

-É só mostrar esses papéis na fronteira e passar.

-Não tenho que passar no SAG antes?

-Não. Na fronteira tem.

Foi nessa que me ferrei.

No dia seguinte fomos, marotos, em direção à fronteira.

Fizemos a burocracia de saída do Chile na aduana e tentei avisar a todos que tinha um cachorro e que precisava dar a saída dele.

Naquele jogo de empurra- empurra, passamos por vários fiscais da aduana e nada.

-Pode seguir, não precisa fazer nada com o cachorro...

Foi aí que me lembrei da última vez que entrei com o Tapa no Peru onde ninguém, absolutamente ninguém, queria assinar a autorização de entrada do cachorro. Fiz-me de bobo e me ofereci para assinar:

-Posso fazer a firma?

 Colou!!!!

Daquela vez, eu, “quase uma autoridade peruana” autorizei a entrada do Tapa no Peru ...hahaha ... que esculhambação.

Dessa vez eu queria fazer tudo certo... mas a Lei de Murphy imperou. Se alguma coisa pode dar errado, ela vai dar.

Demos entrada na aduana peruana, tudo ok. Mas na hora de mostrar a documentação do fedido faltava 1 documento. Eu tinha tudo!!! Mas faltava 1 documento e justamente aquele que o veterinário disse que eu conseguiria na fronteira e não consegui.

Também, quem mandou eu não usar minha cueca da sorte, com a qual todas as portas sempre se abrem?

E naquele dia que virou noite, eu, Ana e Tapa nos transformamos nos únicos residentes fixos da linha fronteiriça Arica/Tacna. Visitamos cada aduana 3 vezes. Ninguém queria a gente. Chilenos e peruanos não se dão muito bem e nos sentimos como uma encomenda indesejável onde uma aduana enviava para a outra.

Na aduana chilena fomos bem tratados, mas os peruanos eram escorraçados. Eles traziam bolsas enormes de papel higiênico. Era engraçado ver aquela enorme bolsa de papel higiênico passando no raio X.

Naquele dia descobrimos que peruano adora fazer cocô no Chile.

Cansados do ping pong, decidimos arregar. Pô, sexta feira... agora só dá para resolver tudo na segunda-feira!

Depois daquela chuveirada de burocracia, mais 4 carimbos no passaporte em vão, resolvemos voltar para Arica e fazer um churrasco de salmão. Premio de consolação.

Chegamos na rua da night, a Peatonal, e tomamos um rocket, um tubo de 1 metro cheio de chopp. Depois, passamos no supermercado, compramos o material do churrasco e fomos pro camping. Chegando lá, o Murphy estava sentado no banco de trás do carro e o camping estava fechado!!! Estávamos na rua!!! Maravilha.

Fomos dormir, no esquema indigente, nas areias da isolada e desértica praia de Chinchorro.

No dia seguinte, passamos no mercado de peixe e compramos mais algumas especiarias do Oceano Pacifico para passar o fim de semana no esquema “barão”.

Churrasco de salmão e de albacora ...

piure, ceviche, burritos ...

feijão frito, salsa mexicana e cerveja Cristal gelada pelo Farofamóvel... essa é a receita da felicidade nesse fim de semana pré-Peru.

Mas nesta segunda-feira, estaremos lá na aduana peruana novamente. Com a minha cueca da sorte, nada nos deterá.

Comidas e bebidas maneiras

As cidades chilenas, banhadas pelo Oceano Pacífico, têm o

privilégio de terem em seus cardápios, frutos do mar exóticos e

únicos. Devido à localização e temperatura das águas do pacífico,

este proporciona às suas cidades costeiras preciosidades da

gastronomia encontradas somente por aqui. Os peixes, por causa

das águas geladíssimas, são enormes. Provar os sabores deste

local tão especial com certeza irá “requintar” seu paladar.

Nas peixarias e feiras você pode se deliciar desta diversidade de

gostos. Algumas especiarias, como o ceviche e o piure, são

preparados na hora e comumente servidos como entradas nos

restaurantes. O ceviche, que pode ser encontrado no Brasil, é uma

forma de se preparar o peixe. Ele é cortado em pedaçinhos e

temperado com muito limão, alho, cebola, sal e salsinha. Já o piure

só se encontra por aqui, pois ele é uma espécie de marisco que

nasce nas pedras banhadas pelo gelado mar do pacífico. É

temperado da mesma forma que o ceviche e também é muito

pedido na região. Nós provamos e achamos com um leve gosto de

“sabão”. Mas vale à pena comê-lo por ser tipicamente regional e

também porque gosto varia de pessoa para pessoa! Afinal, seria

muito monótono se todos nós gostássemos das mesmas coisas!!!

 

Em Arica nós provamos um peixe chamado Congrio.

Aprovadíssimo! Suculento, saboroso e sem espinha, ele é servido

em fartas postas e pode vir com a “guarnicione” que escolher...

batata frita, purê de batatas, arroz ou “ensalada”, a nossa

saladinha. Nós ficamos com a ensalada e também um prato de

batatas fritas como acompanhamento. Foi uma pedida e tanto! O

prato veio muito bem servido e a salada com alface, tomate,

vagem e abacate muito bem feita.

 

 

Se você gosta de abacate, aqui é o seu lugar. Até no Mc Donalds

você encontra. Nos sandubas é servido em forma de pasta e nas

saladas, em fatias. É uma delicia! Apenas não exagere, pois o

abacate é uma bomba de gordura.

 

O Albacore é outro peixe da região e servido em suculentos filés.

Vai muito bem com batata, salada, ou o que preferir. Só não pode

deixar de prová-lo.

 

E não para por aí... além destas, existem outras diversas delícias

do mar a serem degustadas. Nós elegemos o Congrio como o nosso

preferido. Prove você também e nos diga depois. A experiência de

prová-los já vale a viagem.

 

O povo daqui bebe, e muito. Nas “peatonales”, ruas onde transitam

apenas pedestres, encontramos os bares cheios de dia e noite. As

Pitchers e os Rockets são os campeões. Os Rockets são torres de

gelo com 2,5 litros de chopp. Esses nós temos no Brasil. Aqui são

disputados a tapa. As Pitchers, estilo norte americanas, são as

famosas jarras com 1,6 litros de chopp. Normalmente é chopp

Cristal, de fabricação chilena. Nós, como bons “apreciadores de chopp”, obviamente, bebemos os dois. E aprovamos também. A

escolha vai depender do seu estado de espírito no dia!!!

 

 

 

Cervejeiro aqui é bem servido. Tem a Cristal, leve e suave. Não dá

ressaca e tem seu preço bastante razoável. Vendida nos bares e

supermercados, você pode encontrá-la em garrafa de vidro com 1

litro e em garrafa de plástico com 1,5 litros.

 

 

Outra cerveja muito especial vendida na região é a Corona, “made

in” México. Esta já foi, ou ainda é comercializada no Brasil, não

sabemos dizer ao certo. Uma pena, pois é uma cerveja que

combina com todas as estações. Pedir uma Corona com um

ceviche, como aperitivo, acalma qualquer um.

 

O importante para o viajante na costa chilena é não deixar de

provar as delícias dessa região tão privilegiada e única. Depois,

quando retornar ao Brasil, poderá dizer qual oceano é mais

especial, o nosso ou o deles.

 

 

 

 

 

Recados

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